Screen sucking: o que é e como mina a produtividade
Passar horas na Internet ou agarrado a ecrãs é quase uma adição. Venha descobrir o que é screen sucking e como está a minar a sua produtividade...
Smartphones, tablets, computadores portáteis, com a Internet sempre ligada e os emails a chegar de minuto a minuto, as notificações das redes sociais e mil e uma aplicações de conversação sempre a apitarem... Tudo isto é essencial na rotina de trabalho de muita gente e sem algumas destas ferramentas, seria impossível realizar as tarefas diárias.
Mas será que toda essa tecnologia está realmente a contribuir para a nossa produtividade? Eis a grande questão.
Alguns especialistas estão a concluir que esse excesso de tecnologia nas nossas vidas está, de facto, a prejudicar a economia e a reduzir a produtividade dos trabalhadores.
As pessoas têm a ilusão de que trabalham muito, pois estão continuamente a responder a emails e a solicitações de colegas, ou a consultar regularmente notificações em smartphones e feeds de notícias. Mas a ideia de muita produtividade pode ser mera ilusão.
Quem anda nessa roda-viva, saltando de site em site, de email em email, de conversa em conversa, chega ao fim do dia esgotado e com a perceção de que se fartou de trabalhar. Mas, feitas as contas, apesar de ter estado constantemente a trabalhar, muitas vezes, o que conseguiu terminar foi nada.
Assim, será preciso entender o potencial das tecnologias e a forma como podem estar a minar a produtividade. Há especialistas que acreditam que o problema está na forma como as pessoas as usam.
É, neste âmbito, que surge o conceito do screen sucking. Venha perceber melhor o que é isto e como pode perturbar o seu trabalho...
O que é screen sucking e como prejudica o trabalho
A expressão screen sucking foi inventada pelo psiquiatra norte-americano Edward Hallowell, autor de vários livros sobre a temática, incluindo "CrazyBusy: Overworked, Overbooked and About to Snap!" e "Driven to Distraction".
Hallowell definiu o conceito como "o desperdício de tempo a interagir com um ecrã - por exemplo, o computador, um videojogo e a televisão".
Quem usa telemóvel, tablet, computador ou até uma Playstation ou qualquer outro dispositivo eletrónico com regularidade já experienciou este fenómeno. Trata-se de passar demasiado tempo agarrado a estes ecrãs, de tal forma que nem se dá pelo passar das horas.
"É semelhante a beber álcool: quando se começa, é preciso ter cuidado com o quanto se consome. O entendimento disso pode levar à moderação", como explica Hallowell.
Quanto mais tempo se desperdiça colado a séries de televisão, a videojogos ou às redes sociais, menos tempo sobra para dedicar a coisas mais importantes ou a projetos pessoais arrumados no fundo da gaveta há anos.
Além disso, o screen sucking aumenta o stress e a ansiedade e, portanto, acaba por afetar as relações pessoais e até a capacidade de produção no trabalho.
As pessoas passam tanto tempo absorvidas no que está a acontecer nos ecrãs que acabam por desperdiçar horas em que poderiam estar a completar tarefas. Isto acontece mesmo quando estão a trabalhar, por exemplo, respondendo a emails ou a dúvidas dos colegas.
O que fazer para evitar o screen sucking
A boa notícia é que ter a perceção de que se está a desperdiçar tempo é o segredo para fazer mudanças. Se conseguir focar-se no que é realmente importante, vai conseguir ser mais produtivo e com menos stress.
Nesse sentido, deixamos aqui algumas dicas que podem ajudar a evitar tanta dependência dos ecrãs:
- Agende um tempo específico para usar as tecnologias e defina limites
- Redefina prioridades (passar 3 horas por dia nas redes sociais é mesmo um objetivo de vida?)
- Organize o seu dia de trabalho com períodos específicos para responder a emails e consultar redes sociais
- Habitue os colegas a esperarem por respostas (sempre que sejam menos urgentes)
- Evite interromper tarefas para responder a solicitações imprevistas
- Faça pausas e tire um tempo livre de tecnologia
- Planeie atividades em família ou com amigos sem tecnologia por perto
- Pare com a desculpa de que os videojogos, a TV ou a Internet o relaxam (vá antes dar um passeio ou ao ginásio).
Controlar a tecnologia e evitar que ela nos controle
No fundo, o grande segredo passa por saber controlar a tecnologia em nosso benefício, evitando que seja ela a controlar a nossa vida. Pode parecer fácil na teoria, só que na prática é mais complicado.
A facilidade de uso é a grande "magia" das apps e softwares que nos prendem ao ecrã. O foco na usabilidade e na experiência do utilizador que têm marcado o desenvolvimento web, nos últimos anos, são os maiores aliados do screen sucking. Se aceder à Internet e às apps fosse difícil e lento, atraíam menos gente!
É preciso dizer que a tecnologia continua a ser essencial para melhorar a produtividade em muitos cenários. Contudo, nos últimos anos, a produtividade decresceu, segundo analistas da área, e há quem associe esse decréscimo ao screen sucking.
Alguns especialistas falam mesmo de uma estagnação em termos do desenvolvimento de software para computadores, com evidente impacto negativo na economia. Por isso, defendem que é preciso criar softwares de próxima geração que sejam capazes de antecipar as necessidades do utilizador, de forma a dar prioridade ao aumento da produtividade.
Assim, em vez da UX (User Experience) que tem estado no centro do desenvolvimento, o foco deve ser a Experiência Total do Utilizador (TUX ou Total User Experience), vaticinam.
A sociedade 20/80
Neste ponto, é interessante falar das previsões do livro de 1996 intitulado "Die Globalisierungsfalle: Der Angriff auf Demokratie und Wohlstand" (A Armadilha Global: Globalização e o Assalto à Democracia e à Prosperidade na tradução para português). Escrito pelos jornalistas Hans-Peter Martin e Harald Schumann, a obra fala dos efeitos da globalização na economia e na sociedade.
Os autores previam, há mais de 20 anos, que o aumento da produtividade impulsionado pela tecnologia causaria a diminuição da quantidade de trabalho que haveria para fazer. Assim, consideravam que um quinto da força de trabalho global seria suficiente para fazer todo o trabalho, o que proporcionaria elevados níveis de desemprego.
"Nesta possível sociedade do Século 21, 20% da população em idade ativa será suficiente para manter a economia mundial. Os outros 80% vão viver de algum tipo de subsídio e divertir-se com um conceito chamado "tittytainment" que visa manter felizes estes 80% de cidadãos frustrados com um misto de entretenimento de menor denominador comum e mortalmente previsível para a alma e para nutrir o corpo", escreviam Martin e Schumann em 1996.
Portanto, esta "sociedade 20/80" nasceria como resultado de uma economia cada vez mais comandada por corporações globais e pela tecnologia.
A previsão pode ter-se concretizado em parte. Muitos dos que vivem absorvidos pelo screen sucking podem estar a experienciar o tal "tittytainment" de que falam os autores do livro.
Mas, independentemente de teorias ou de previsões, é certo que as virtudes da tecnologia podem ser usadas tanto a nosso favor como contra. Cabe a cada um de nós decidir o que fazer com ela.